COLETAS - PARTE 3



Caríssimos, é próprio da piedade cristã perseverante conservar com fiel devoção as instituições que recebemos da tradição dos Apóstolos. Porque os bem-aventurados discípulos da verdade, transmitindo esta doutrina sob inspiração divina, recomendaram que, todas as vezes que a cegueira dos pagãos os conduzisse com maior intensidade às suas superstições, o povo de Deus perseverasse ainda mais devotamente nas orações e nas obras de caridade. Pois, na verdade, quanto mais os espíritos imundos se alegram com o erro dos pagãos, tanto mais se sentem derrotados pela observância da verdadeira religião e, assim, o crescimento da justiça con-some o autor da maldade.

Contra suas intervenções impiedosas e sacrílegas, para que elas não causassem nenhuma poluição aos corações consagrados a Deus, o divino Mestre dos povos precavia, quando com sua palavra apostólica afirmava: “Não formeis parelha incoerente com os incrédulos. Que participação pode haver entre a justiça e a impiedade? Que união pode haver entre a luz e as trevas?” (2Cor 6,14). E acrescentou, em seguida, servindo-se das palavras do profeta inspirado: “Saí do meio de tal gente, e reparai-vos, diz o Senhor. Não toqueis no que é impuro” (ib. 17).

Foi, pois, muito providencial que, para destruir as ciladas do antigo inimigo, tenha sido instituída na santa Igreja a primeira coleta, no mesmo dia em que os infiéis a serviam ao diabo sob o nome de seus ídolos: queremos, pois, que vossa caridade se reúna na terça-feira em todas as igrejas de vossas regiões, trazendo cada um a oferenda voluntária de suas esmolas. Ainda que a possibilidade de cada um não seja igual neste ano, que sua dedicação seja sem diferença: com efeito, a generosidade dos fiéis não é medida pelo peso do dom, mas pela intensidade da boa vontade. Que os pobres também tenham ganho neste intercâmbio de misericórdia e, que eles, sem serem prejudicados, escolham do pouco que possuem alguma coisa que possam dar aos indigentes. Que o rico seja mais generoso em sua oferta, sem que o pobre se sinta inferior em sua disposição. Na verdade, embora se espere maior rendimento de uma semente maior, pode resultar também de semeadura fraca numerosos frutos da justiça. Com efeito, nosso juíz é justo e veraz: não priva ninguém da recompensa devida aos méritos.

Assim, ele quer que nós cuidemos dos pobres, a fim de que, no exame da retribuição final, o Cristo nosso Deus outorgue a misericórdia prometida aos misericordiosos. Ele que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.

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