COLETAS - PARTE 6



Deus já revelou a regra do julgamento

Caríssimos, através dos ensinamentos divinos, bem como da instituição apostólica, aprendemos que todo homem estabelecido entre os perigos desta vida, deve procurar a misericórdia de Deus pelo exercício da misericórdia. Visto que a esperança poderia reerguer aqueles que cairam, que remédio poderia curar os feridos, se as esmolas não apagassem as faltas, e se as necessidades dos pobres não se tornassem a absolvição dos pecados? Por causa disso, o Senhor afirmara: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7); ele mostrou segundo qual regra será feito todo este exame, através do qual, com toda a majestade, ele deverá julgar todo o mundo: assim que estiver esclarecida a questão da qualidade de nossas obras em relação aos pobres, tudo estará preparado para que os ímpios vão arder com o diabo e os bons reinar com Cristo. Neste momento, que ações não serão colocadas diante de todos? Que segredos não serão revelados? Que consciências não serão manifestadas? Aí, verdadeiramente, ninguém se ufanará de possuir coração puro ou de estar livre do pecado. Mas para que a misericórdia seja exaltada acima do julgamento e porque as atitudes de clemência transcendam qualquer retribuição exigida pela justiça, a vida toda dos mortais e seus atos mais diversos serão examinados a partir de regra única, a saber, que não será feita menção alguma de qualquer falta onde, pela decisão do Criador, forem encontradas obras de bondade. Será recriminado aos que estiverem à esquerda aquilo que tiverem feito, e não é porque se lhes mostrará que foram estranhos aos atos de humanidade que estarão isentos de outros pecados; mas, culpados por muitas coisas eles serão condenados, sobretudo por não terem redimido seus crimes, mediante alguma esmola. Com efeito, é o fato de um coração muito duro não se comover por qualquer miséria que seja dos que sofrem, e, aquele que tendo possibilidade de amenizar, não socorre o aflito, é tão injusto quando não socorre o aflito quanto o que oprime o enfermo; que esperança, então pode restar ao pecador se ele não é misericordioso de modo a também ele receber misericórdia?

Caríssimos, eis porque aquele que não é bom para os outros é, antes, mau para si mesmo, prejudicando sua própria alma, não socorrendo a daquele que ele poderia socorrer. A natureza dos ricos e dos pobres é a mesma e entre outras conseqüências da fragilidade humana, nenhuma felicidade dura indefinidamente, porque cada um deve temer aquilo que pode acontecer a alguns. Que o nosso ser mortal, mutável e perecível seja reconhecido em todos os homens, e que por causa desta condição comum, manifesta a estas de sua espécie o amor fraterno; chore com os que choram e junte seus gemidos aos gemidos dos doentes; que ele divida com os pobres suas riquezas; que ele use seu corpo sadio para se inclinar sobre o doente que está possuído pelo mal; separe entre os seus alimentos, uma parte para os famintos e que ele possa aquecer aqueles que tremem de frio. Aquele que, com efeito, ameniza a miséria temporal do sofredor se livra do suplício eterno do pecador.

Cada um será julgado segundo a sua generosidade para com os pobres 

Caríssimos, foi providencial e piedosa a determinação dos santos Padres, para que em diversos momentos do ano houvesse dias marcados para despertar a devoção do povo fiel para uma coleta pública; pois é em direção da Igreja que vem todo pessoal necessitado de socorro, eles quiseram que os recursos de muitos recolhidos espontânea e santamente, fossem distribuídos aos necessitados pelos chefes das igrejas. Está próximo o dia que vos convida para esta obra produtiva e, acreditamos, desejado por todos; atendendo às nossas exortações para que no próximo sábado possais trazer às igrejas de vossas regiões os dons da misericórdia. E, porque “Deus ama aquele quedá com alegria” (2 Cor 9,7), ninguém se obrigue a dar além de sua possibilidade. Que cada um seja juiz equilibrado entre si e os pobres. Que uma comiseração alegre e segura descarte qualquer falta de confiança; e, aquele que ajuda ao indigente compreenda que está dando a Deus a esmola que distribui. Todas as riquezas, cuja medida não é uniforme, podem ter o mesmo valor se, apesar de quantidades diferentes, o amor não for menor. Com efeito, Deus, que não faz diferença entre as pessoas, recebe igualmente o dom do rico e do pobre: ele sabe o que outorgou ou não a cada um: no dia da recompensa não é a medida das riquezas que será julgada, mas a qualidade das intenções. Por Cristo, nosso Senhor.

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